Não há maior tentação para um observador da política nacional do que fazer apostas antes de uma eleição. As autárquicas deste ano são, porém, um caso extremo: são tantos os factores novos e de imprevisibilidade que é mais fácil António José Seguro acertar na chave do Euromilhões em que gastou dez euros esta semana do que alguém acertar nos resultados de domingo.
Há porém um exercício que podemos fazer, que é olhar para as muitas sondagens publicadas e tirar algumas tendências que parecem sólidas.
A mais consistente é esta: o PSD vai perder votos face a 2009. Diria mesmo que vai perder muitos votos. Em Lisboa, Fernando Seara está quase dez pontos abaixo do ‘score’ que Santana Lopes conseguiu; no Porto, mesmo que vença, Menezes está a 15 pontos do resultado de Rui Rio; em Sintra e Gaia, mesmo ganhando, perde cerca de vinte pontos e trinta pontos, respectivamente. Estes são os quatro maiores concelhos do país, mas há mais. Nos 24 concelhos já ‘sondados’ o PSD está a perder votos em 14 (até mesmo em locais onde vencerá, como no Funchal ou Aveiro).
Curiosamente, o PS tem um problema idêntico, embora em menor escala. No Porto está a 10 pontos do (mau) resultado de 2009; em Matosinhos e Loures também, assim como em Sintra e Gaia (onde as perdas podem ser mais ligeiras, mesmo podendo ganhar). Contas feitas ao intervalo: o PS arrisca-se a perder votos em 12 concelhos e a ganhar em cinco. Mas uma das excepções é de digestão mais difícil para o líder: em Lisboa, António Costa está seis pontos acima de 2009, mas esses votos servem também de arma contra Seguro, caso os resultados nacionais desapontem o partido.
Uma coisa é certa, para o PS: bater os resultados de 2009 não será fácil: 38% dos votos são um obstáculo respeitável.
Para sair com uma vitória, porém, Seguro tem outros trunfos. Primeiro: os políticos/comentadores baixaram-lhe a fasquia das expectativas; Segundo: nas grandes câmaras em aberto, o PS luta por quase todas; Terceiro: o voto de protesto pode acentuar-se subitamente. Último: o Governo tem ajudado, marcando o início das 40 horas semanais de trabalho no Estado para amanhã, um dia antes das autárquicas. Como se não bastasse o Orçamento, a troika e as ameaças das agências de rating.
Face a tudo isto, Seguro tem aqui a chamada ‘oportunidade Durão Barroso’: passar de muito criticado líder da oposição a potencial primeiro-ministro. Porque basta-lhe chegar às europeias para sobreviver no PS.
Claro que o risco contrário também existe, porque não basta ganhar em votos a um PSD coligado em 82 concelhos. Tem que ganhar em câmaras, ou ter mais câmaras do que Sócrates conseguiu em 2009. Não chegar aí pode não custar a liderança. Mas já vimos na história do PS quem entrasse em «estado de choque» por coisas assim.
Quanto ao PSD, a sua esperança reside na CDU, em meia dúzia de independentes e nas câmaras pequenas e médias, onde não há sondagens, para evitar a hecatombe. É certo que o Governo não cairá aqui. Mas o ‘que se lixe as eleições’, nesta fase do ajustamento, não tem um preço simpático para quem governa.
(artigo publicado no Sol, 27.9.2013)